quinta-feira, 4 de agosto de 2011

A caprinovinocultura no nordeste brasileiro

O Brasil possui um rebanho caprino e ovino de cerca de 9,5 e 14,3 milhões de cabeças, respectivamente, distribuídos por todas as regiões do país (IBGE, 2002). Apesar de apresentar o 10º maior rebanho caprino, o Brasil contribui com apenas 1,3% da produção de leite de cabra produzido no mundo. Do rebanho caprino, mais de 90% é encontrado na região NE, mais especificamente na região semi-árida nordestina, onde predomina o sistema de criação extensivo, cujo principal produto de exploração é a carne. Na região SE, tem-se um rebanho para produção de leite. De acordo com o IBGE (2002), com relação ao rebanho ovino, o NE detém o maior efetivo (56,08%), seguido pela região Sul (32,81%). Da produção mundial de carne ovina, o Brasil contribui apenas com 1%, apresentando um abate médio de 970 mil cabeças, com fortes flutuações entre os anos (ANUALPEC, 2000).

Nos últimos anos observou-se um aumento na produção nacional, indicando um crescente interesse pela atividade, inclusive em regiões tipicamente conhecidas como produtoras de carne bovina, como as regiões Norte e Centro-Oeste do país.

A caprinovinocultura desenvolvida no NE brasileiro teve sua origem com a importação de animais de raças européias trazidas pelos jezuítas e colonizadores. Os caprinos e ovinos, de modo geral, foram criados de forma extensiva e para se adaptarem às condições edafo-climáticas predominantes na região, desenvolveram mecanismos biológicos apropriados, resultando em vários grupos e/ou raças nativas da região. Esta adaptação ao sistema de produção promoveu uma redução da capacidade produtiva dos rebanhos em termos de carne, leite e tamanho corporal. Apesar de a seleção natural ter ocorrido no sentido negativo da produção, o NE possui hoje, para suas condições de semi-árido, material genético de excelente qualidade para produção de pele, carne de baixo teor de gordura e uma adequada produção de leite, desde que seja adotado um nível mínimo de tecnologia.

No NE brasileiro, os rebanhos geralmente são constituídos de animais nativos, SRD ou mestiços, estes últimos, decorrentes de cruzamentos desordenados entre animais exóticos e nativos ou da utilização de reprodutores mestiços com diferentes composições genéticas - “grau de sangue”. O rebanho ovino é constituído, na sua maioria, por ovinos deslanados como o Santa Inês, Morada Nova, Somalis Brasileira, Cariri e seus mestiços. As principais raças nativas e/ou tipos caprinos do NE são a Moxotó, Canindé, Repartida, Marota, Cabra Azul, etc. Os rebanhos apresentam certo índice de consangüinidade devido ao fato de não haver renovação periódica dos reprodutores, levando ao aparecimento de criptorquidismo, prognatismo, agnatismo, além de nos caprinos, aparecerem, com certa freqüência, reprodutores mochos, os quais provocam problemas na fertilidade do rebanho e, por conseguinte, reduzem a produtividade do rebanho.

Apesar das altas taxas de crescimento dos rebanhos caprino e ovino, a exploração no semi-árido NE ainda é conduzida de modo extensivo, ou seja, sem nenhum controle sobre os rebanhos. Na época chuvosa, a alimentação dos animais é proveniente exclusivamente da pastagem nativa (caatinga) e, em alguns casos, da pastagem melhorada pelo raleamento. Na época seca, além das pastagens nativas, os animais são colocados nas áreas de colheitas, para aproveitarem os restolhos de culturas. Em algumas propriedades, verifica-se o fornecimento de suplementação com grãos ou outro alimento.

Quanto às instalações, em alguns casos existem cercas periféricas apropriadas para contenção destes animais, aprisco de chão batido ou ripado suspenso, com algumas divisões internas. Observa-se, ainda, a existência de aguadas, açudes, bebedouros, comedouros e saleiros. A grande maioria das propriedades deste sistema de criação se enquadra no nível baixo de adoção de tecnologia, com índices de produtividade de 70-80%, 30-35%, 20-25%, 7-8%, 18-24 meses para fertilidade ao parto, partos gemelares, mortalidade de 0-1 ano, mortalidade de adultos e idade ao abate, respectivamente. As principais doenças que acometem o rebanho são as ecto e endoparasitoses, a linfadenite caseosa e o ectima contagioso. Atualmente, verifica-se o emprego de algumas práticas sanitárias, a saber: vermifugações esporádicas e vacinações, além do tratamento do umbigo.

A comercialização, em geral, é feita através de intermediários que adquirem os animais nas fazendas. Alguns reprodutores e matrizes são comercializados tanto nas fazendas, como nas feiras agropecuárias. As peles dos animais abatidos são vendidas aos intermediários e, excepcionalmente, diretamente ao curtume.

Na zona da mata e agreste nordestino predomina o sistema de criação semi-intensivo, cujos rebanhos já possuem padrões raciais definidos e os criadores são mais receptivos a informações técnicas e inovações; muitos fazem uso de IA (Inseminação Artificial) e, alguns, já praticam a técnica de TE (Transferência de Embriões). Além da utilização de concentrado comercial, a alimentação baseia-se no fornecimento de volumoso, através de pastagens cultivadas e utilização de fenos e/ou silagens. São poucos os que utilizam concentrado produzido na própria fazenda, o que contribuiria para reduzir os custos com alimentação. Os animais têm acesso ao sal durante todo o ano e as instalações variam de acordo com o sistema de criação adotado, mas, geralmente, possui cercas divisórias nas pastagens e capineiras, apriscos de piso ripado suspenso, com divisões para cada categoria animal. As principais enfermidades que acometem estes rebanhos são a CAEV (caprinos), a linfadenite caseosa, o ectima contagioso e a verminose, sendo esta controlada por meio de vermifugações estratégicas. Em termos de manejo sanitário, são realizadas vermifugações estratégicas, vacinações, corte periódico dos cascos e higienização periódica das instalações. Os índices de produtividade, consequentemente, atingem patamares superiores aos observados na região semi-árida, 80-90%, 30-40%, 10-15%, 4-5% e 16-18 meses para fertilidade ao parto, partos gemelares, mortalidade de 0-1 ano, mortalidade de adultos e idade ao abate, respectivamente.

Apesar do mercado de carne caprina e ovina, interno e externo, se mostrar consumidor (Couto, 2001), o setor apresenta um desequilíbrio entre a produção na propriedade, o abate formal de animais e o setor de curtimento das peles, tornando necessário o trabalho conjunto dos diversos elos da cadeia produtiva, de maneira a reduzir os custos operacionais e aumentar a lucratividade e a sustentabilidade do sistema (Couto & Medeiros, 2000).

Em termos de qualidade da carne, o NE continua na “idade da pedra”. Estima-se que mais de 90% do abate total é feito de forma clandestina; todos os abatedouros oficiais trabalham com grande capacidade ociosa. Diante deste quadro, falar em qualidades sensoriais como sabor, maciez e suculência ou de formas de valorização dos nossos produtos, como rendimento e valorização da carcaça por meio de cortes regionais, parece não ter muito sentido. Com a necessidade de se oferecer um produto de maior qualidade, padronizado e bem embalado, exigência do consumidor atual, é provável que, em breve, haja uma solidificação da caprinovinocultura de corte como uma atividade empresarial, de forma que as ações da cadeia produtiva sejam conduzidas pelos custos de produção e preço final dos produtos. Já é tempo, também, de se começar a separar o que é caprino e o que é ovino. São espécies diferentes cujos produtos devem ser diferenciados para o mercado consumidor. Os restaurantes de “bode assado ou guizado”, onde o produto consumido é, na verdade, carne ovina, constituem uma propaganda enganosa que precisa ser coibida.

Para muitos já ficou claro que a atividade só irá prosperar se todos os elos da cadeia produtiva participarem do processo, com profissionalismo e adoção de tecnologias modernas e apropriadas. Tecnologia moderna será aquela que contribuir para que o custo da produção permita uma margem de lucro satisfatória sob a condição de preço de venda, seja ela um pasto nativo de caatinga ou um pasto cultivado de capim Tifton, um genótipo nativo como o Moxotó ou Santa Inês ou um importando como o Boer ou Dorper. Na verdade, o produtor deve buscar identificar corretamente os fatores de produção que deverão ser trabalhados para adequar seus custos unitários às condições de mercado, ou seja, buscar o ótimo econômico do seu sistema de produção.

*Texto: NUTRIPLAN Consultoria e Assessoria Pecuária

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