quinta-feira, 4 de agosto de 2011

A Importância da Caprinovinocultura em Assentamentos Rurais de Mossoró -RN ( 1 )


JOSÉ ROMERO ARAÚJO CARDOSO ( 2 )

A caprinovinocultura vem sendo explorada em quase todos as regiões, estando presente em áreas de diferentes climas, solos e coberturas vegetais. Entretanto, essa atividade só apresenta expressão econômica em poucos lugares, e geralmente é desenvolvida em sistema extensivo e com baixa tecnologia.
Segundo a FAO, apud SEARA (1996) a Austrália, a China e a Nova Zelândia, concentram, respectivamente, 14%, 9% e 5% do efetivo mundial do rebanho ovino. Já os maiores criadores de caprinos são a Índia, a China e o Paquistão, que detém, respectivamente, 20%, 15% e 6,5% do rebanho mundial.
Não obstante dispor de condições edafoclimáticas semelhantes ou até mesmo superiores às dos países maiores criadores dessas espécies, o Brasil detém apenas 3,3% do plantel mundial de ovinos e caprinos. Considerando a dimensão territorial e as condições favoráveis ao desenvolvimento da caprinovinocultura, Leite (s/d) afirma que nossos rebanhos são numericamente inexpressivos, principalmente quando comparados com a criação de bovinos, cujo efetivo nacional é da ordem de 150 milhões de cabeças.
A introdução de caprinos e ovinos no Brasil, data de 1535, pelos colonizadores portugueses, que aportaram no Nordeste (Maia et al., 1997).
Talvez em função disso, o Nordeste em 1999, concentra 93% do rebanho caprino nacional e 51% do rebanho ovino (IBGE,1999).
Para Simplício (s/d), o Nordeste brasileiro semi-árido tem sido assumido, durante séculos, como área de vocação pecuária, especialmente, para a exploração de ruminantes domésticos. No entanto, ressalte-se os caprinos e ovinos face a característica de adaptação a ecossistemas adversos o que é fortemente influenciado pelos seus hábitos alimentares.
Ruminantes de pequeno porte, esses animais apresentam significativas vantagens em relação à bovinocultura, principalmente no que diz respeito a área ocupada e manejo. A rusticidade desses animais, bem como a facilidade de adaptação às condições ambientais são outros fatores que contribuem para tornar essa atividade relevante, nas pequenas e médias propriedades rurais do semi-árido.
Nunes (1987) destaca que os custos financeiros de uma vaca eqüivalem ao de 8 a 20 caprinos, aliado a isso a facilidade de manejo devido ao pequeno porte destes animais, vem despertando nos produtores grande interesse em ampliar a produção de seus rebanhos, objetivando tornar a atividade mais lucrativa.
No Rio Grande do Norte, em 1999, o rebanho caprino era de 296 mil cabeças e o de ovinos de 361 mil cabeças (IBGE, 1999). Segundo o empresário Romildo Pessoa Júnior, presidente da Associação Norte-riograndense de Criadores de Ovinos e Caprinos, o Estado é hoje o maior produtor de leite de cabra do país, com uma produção diária de oito mil litros, totalmente absorvida pelo Programa do Leite do Governo do Estado (www.caprinet.com.br).
Diante do potencial de mercado que se apresenta para os produtos derivados da caprinovinocultura no Estado, a atividade foi introduzida, nos últimos anos, em assentamentos rurais de Mossoró, que por situar-se no semi-árido, apresentam poucas opções de geração de emprego e renda.
Entretanto, não obstante a importância da caprinovinocultura na economia regional, dada a crescente demanda pela carne e pelo leite, pouco se conhece sobre as condições sócio-econômicas e do criatório dos produtores assentados que se dedicam a essa atividade, dentro do contexto do desenvolvimento sustentável, reduzindo com isso a possibilidade que estes teriam de aproveitar as oportunidades sinalizadas pelas demandas do mercado em expansão.
Assim, o objetivo desta pesquisa é analisar o desenvolvimento da caprinovinocultura pelos produtores assentados no município de Mossoró, como forma de orientar as políticas de promoção e fortalecimento dessa cadeia produtiva, dentro do cenário estadual e nacional.
A pesquisa teve como população as famílias dos assentados do Hipólito (Vilas I e II), Lorena, Mulunguzinho, Cabelo de Nêgo e Cordão de Sombra (Vilas I e II), tendo sido considerada a população de acesso apenas aquelas 286 famílias que se dedicavam à produção de caprinovinocultura no momento da coleta dos dados.
Os assentamentos que serviram de população para a pesquisa continham, no período da coleta de dados ( 12 de abril de 2001 a 15 de junho de 2001), 504 famílias ao todo, sendo que destas 56,75% se dedicam à caprinovinocultura. Considerando o número de produtores e a característica da investigação foram aplicados 77 questionários, assim distribuídos: a-) Hipólito (Vila I), 05 questionários ; b-) Hipólito (Vila II), 02 questionários ; c-) Lorena, 03 questionários; d-) Mulunguzinho, 26 questionários; e-) Cabelo de Nêgo, 16 questionários; f-) Cordão de Sombra (Vila I), 13 questionários; g-) Cordão de Sombra (Vila II), 12 questionários.
O critério de seleção das famílias pesquisadas foi do tipo aleatório.
A coleta de dados foi feita através de pesquisa direta com a aplicação de questionários com 39 perguntas fechadas e abertas.
Os dados coletados foram apurados manualmente e, posteriormente, organizados em tabelas e gráficos, utilizando-se para a análise tabular do emprego da proporção. Segundo Toledo e Sovalle ( 1995 ), a proporção de indivíduos em uma dada categoria é definida através do quociente entre o número de indivíduos pertencentes a essa categoria e o número total de indivíduos considerados, devendo as categorias ser mutuamente exclusivas e exaustivas.
Através da análise dos indicadores selecionados pôde-se concluir que;
· a maioria dos produtores assentados é casada, tem menos de 50 anos, é proveniente da zona rural e apresenta mais de 20 anos de experiência na atividade agropecuária;
· o índice de analfabetismo entre esses produtores é muito elevado;
· a caprinovinocultura destaca-se como a atividade que proporciona maior renda, vindo a seguir as culturas de subsistência;
· a maioria dos produtores utiliza até 5 hectares com a exploração de culturas de subsistência de sequeiro, embora todos mantenham áreas com pastagem nativa;
· as esposas ou companheiras dos assentados em sua maioria, não exerce atividades remuneradas que permitam participar do sustento doméstico;
· a maioria das famílias assentadas encontra-se em situação de miséria ou abaixo da linha de pobreza, embora conte com pelo menos um familiar aposentado;
· o rebanho caprino predomina entre os produtores e essa preferência é justificada por ser esta espécie a mais apropriada para a criação em vegetação de caatinga;
· o nível de tecnologia é baixíssimo, não sendo em geral adotada nenhuma medida profilática sanitária, ou prática de manejo reprodutivo, nem controles de cobertura, de nascimento de crias ou de mortalidade;
· a fonte de água mais utilizada para fornecimento aos animais é o poço artesiano, quase sempre salinizado;
· as instituições de fomento à reforma agrária, bem como as de pesquisa e extensão rural, mostram-se ausentes no processo de capacitação dos produtores;
· a maioria dos assentados não consegue individualmente sua própria produção no mercado;
· a venda de animais vivos prevalece na comercialização da produção, oferecendo mais opções de mercado, já que os animais abatidos são comercializados apenas na própria comunidade;
· os meses de junho, julho e agosto são os que apresentam melhores condições de preços para a comercialização dos animais;
· para a maioria dos produtores, o ingresso na caprinovinocultura se deve ao aporte creditício concedido pelo governo, mediante financiamentos individuais, variando de R$ 4 mil a R$ 5 mil, destinados à aquisição de matrizes e reprodutores, construção de curral ou aprisco e formação de suporte forrageiro, tendo como principal agente repassador, o Banco do Nordeste.
· Embora ainda recente como atividade econômica nas áreas assentadas pesquisadas, a caprinovinocultura, não obstante todos os entraves já citados, representa a maior fonte de renda para os produtores.
Como sugestões para melhorar a qualidade e a produtividade da produção pecuária nos assentamentos rurais, recomenda-se a adoção de medidas profiláticas e sanitárias de fácil manejo, tais como tratamento do umbigo dos recém-nascidos, a fim de evitar infecções, a vermifugação do rebanho e a higienização adequada das instalações que abrigam os animais, evitando-se acúmulo de dejetos em larga escala. Implementar a assistência técnica aos assentados, de forma continuada, orientando-os na aquisição dos melhores reprodutores e matrizes, bem como na orientação adequada para a suplementação protéica do rebanho durante o período seco, incentivando o plantio de forrageiras resistentes à seca, como o capim búfel, algaroba, leucena, etc.
Sugere-se ainda que sejam desenvolvidas pesquisas para gênero, bem como sobre a forma como a carne e o couro são manipuladas na comunidade, bem como análise de tabela de custos a fim de avaliar se realmente há rentabilidade da atividade.
A comercialização da produção só poderá se tornar mais dinâmica e eficiente com a organização dos assentados através de ações associativas, buscando formas de cooperação que não prejudiquem a coletividade.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
IBGE. Pesquisa Pecuária Municipal. Rio de Janeiro/RJ, 1999. Disponível em: http://www.ibge.gov.br. Acesso em 09 de novembro de 2001.

LEITE, E. R. Ovinocaprinocultura no Nordeste - Organização e crescimento. Disponível em :http://www.cnpc.embrapa.com.br. Acesso em 19 de junho de 2002.

MAIA, M. S.; MACIEL, F. C.; LIMA, G. F. Produção de caprinos e ovinos: recomendações básicas de manejo. Natal: EMPARN/SEBRAE, dez., 1997.

NUNES, José Ferreira. Cabras podem render muito mais leite no Nordeste. Dirigente Rural [s.l.] v. 26, n. 10, p. 37-40, out. 1987.

SECRETARIA DE AGRICULTURA E REFORMA AGRÁRIA - SEARA. Projeto de Desenvolvimento da Ovinocaprinocultura do Ceará. Fortaleza, 1996.

SIMPLÍCIO, A . A . Caprinovinocultura: uma alternativa à geração de emprego e renda. Disponível em :http://www.cnpc.embrapa.com.br. Acesso em 19 de junho de 2002.

TOLEDO, G. L.; SOVALLE, I. I. Estatística Básica. 2 ed. São Paulo: Atlas, 1995.

( 1 ) - Síntese de Dissertação de Mestrado defendida a 08 de julho de 2002 perante Banca Examinadora composta pelos professores Dr. Benedito Vasconcelos Mendes ( UERN ), Drª Taniamá Vieira da Silva Barreto
( UERN ) e Dr. Patrício Borges Maracajá ( ESAM ) , junto ao Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente - PRODEMA - UERN, orientada pelo Prof. Dr. Benedito Vasconcelos Mendes e co-orientada pela Profª M. Sc. Ana Thereza P. Bittencourt ( ESAM ).

( 2 ) - José Romero Araújo Cardoso - É Professor do Departamento de Geografia - DGE da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais - FAFIC da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN e assessor da Fundação Vingt-un Rosado/Coleção Mossoroense. É sócio-correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte - IHGRN, membro da Associação Paraibana de Imprensa - API , da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço - SBEC e sócio-fundador do Grupo Benigno Ignácio Cardoso D'Arão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Quem sou eu

Minha foto
SOU O STRR PMRN JOTA MARIA, NASCIDO NA CIDADE DE MOSSORÓ-RN.AQUI OS OESTANOS VÃO CONHECER A HISTÓRIA DOS MUNICÍPIOS DA MESORREGIÃO . OESTE POTIGUAR. TENHO O MAIOR ORGULHO DE SER MOSSOROENSE E OESTANO DO RIO GRANDE DO NORTE. SOU SOU TORCEDOR DO BARAÚNAS, O MAIS QUERIDO DE MOSSORÓ E INTERIOR DO RIO GRANDE DO NORTE

Minha lista de blogs

PORTAL OESTE NEWS

PORTAL OESTE NEWS
A MAIOR FONTE DE INFORMAÇÕES ANTIGAS E ATUAIS DE MINHA QUERIDA E AMADA TERRA POTIGUAR, COM 12 BLOGS E 988 LINKS, CRIADO A 28 DE DEZEMBRO DE 2008, PELO STPM JOTA MARIA, COM A COLABORAÇÃO DE JOTAEMESHON WHAKYSHON, JULLYETTH BEZERRA E JOTA JÚNIOR. ACESSE E CONFIRA!